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Mais referências sobre o Remix

Como já disse em outro post, um dos objetivos ao criar este blog foi o de encontrar interlocutores, especialmente pesquisadores que também estivessem interessados na questão das transformações dos processos autorais da atualidade.

Outro objetivo era tentar construir aqui um tipo de processo co-autoral feito dos meus posts mais os comentários dos visitantes, que pudesse ser visto como uma produção discursiva colaborativa. Queria ver se e como isso seria possível.

Pois bem, perto de completar um ano, posso dizer que o blog atingiu esses objetivos. Basta ler os diversos posts pra constatar em muitos deles comentários ricos em informações adicionais que, sem dúvida alguma, ampliaram o conteúdo dos textos originais.

Um dos temas que foi em grande parte trazido por essa interação foi o do Remix. Um assunto totalmente relacionado com o fenômeno dos novos processos autorais presentes nas redes de comunicação, mas que não é objeto da minha pesquisa atual. Portanto, um tema inserido na discussão mais ampla que eu proponho, mas que eu não daria conta de abordar sozinha.

Grande parte das contribuições de referências sobre esse tema foi postada por Reynaldo Carvalho, que está terminando o doutorado na UnB sobre a reescritura na pós-modernidade e na cultura remix e tem sido um de meus mais constantes interlocutores no blog. Em seus comentários, ele tem partilhado uma série de dicas sobre o tema, como bibliografia, entrevistas e projetos. Como esta contribuição está registrada em diferentes posts, de forma dispersa, resolvi agrupar boa parte dessas referências para facilitar a pesquisa. Tem mais algumas que já comentei neste post.

Começo com o projeto Ubuweb, citado em alguns comentários. Criado pelo poeta estadunidense Kenneth Goldsmith, em 1996, o site traz poemas, textos, filmes e áudio, incorporados sem autorização dos autores, com base no pressuposto de que as obras são de vanguarda e não têm potencial comercial. Seu acervo de filmes, como diz Reynaldo, é um imenso céu estrelado: de Beckett a Beuys, de Godard a Gary Hill, de Mekas a Mishima, são centenas de obras de artistas do primeiro time da vanguarda internacional de várias épocas.

E, para completar, o link do livro de Kenneth Goldsmith, “Uncreative Writing: Managing Language in a Digital Age”, na Amazon. Infelizmente, não tenho o link do livro pra baixar 😦

Outra dica muito interessante são as entrevistas de Henry Jenkins com Owen Gallagher, coordenador o projeto Total Recut, em duas partes:

“What is Remix Culture?”
Parte Um
Parte Dois

Mais uma referência bacana é o texto do William Gibson, autor do (acho que posso dizer) já clássico livro Neuromancer, intitulado “Confissões de um artista plagiador”.

Vale ainda destacar dois livros citados por Reynaldo (estes, sim, pra baixar):

Imagíbrida: comunicação, imagem e hibridação, organização de Denize Correa Araújo e Marialva Carlos Barbosa. Uma coletânea de artigos que discutem de diversos ângulos o estatuto da imagem híbrida na cultura contemporânea.

Gambiologia, do Mutirão da Gambiarra <http://mutirao.metareciclagem.org>, um coletivo editorial nascido na rede MetaReciclagem que articula publicações colaborativas sobre temas como apropriação criativa de tecnologias, cultura digital experimental e redes colaborativas.

Para quem estuda o tema, vale ainda mencionar os artigos:

Aura e Autoria na Apropriação pós-moderna – um pequeno ensaio comparativo entre Sherrie Levine e Michel Mandiberg, de Ruth Moreira de Sousa

Sobre a Reescritura – 1ª parte – Teoria, de Marissi Passini, do Centro de Estudos Claudio Ulpiano

E, por último, o vídeo Society of Spetcacle (a digital remix)

Façam bom proveito!

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Boa bibliografia sobre autoria e propriedade intelectual

Tive acesso recentemente a uma bibliografia bastante completa sobre a questão dos deslocamentos da autoria na atualidade e suas implicações na propriedade intelectual. A compilação é parte da disciplina Intellectual Property and the Construction of Authorship, ministrada por Martha Woodmansee na Case University, com links para os arquivos, a maior parte em pdf e todos em inglês.

Embora tenha um viés que tenda um pouco mais para a área do Direito, tem várias boas referências sobre a construção da noção de autoria na história e também sobre as transformações trazidas pelas redes eletrônicas à circulação dos bens culturais.

A lista, com cerca de 80 artigos, começa com os clássicos “What is an Author”, de Michel Foucault, e “The Death of the Author”, de Roland Barthes, que questionaram o estatuto da autoria já na década de 1960.

Outra boa referência são os artigos de Martha Woodmansee, “On the ‘Author Effect’: Recovering Collectivity e “The Genius and the Copyright” , além de alguns outros do livro “The Construction of Authorship”, organizado por ela.

Uma preciosidade para quem pesquisa o tema são os textos escritos entre os séculos XVII e XIX, que embasaram a construção da figura do autor como um criador individual, como os de William Wordsworth e J.G. Fichte.

E, como não poderia faltar, alguns artigos de pesquisadores que apontam para a influência das mudanças tecnológicas para a transformação das práticas socioculturais como Walter Ong, “Writing Restructures Consciousness” and “Print, Space, and Closure”, e Elisabeth Eisenstein, “Defining the Initial Shift” . Além de textos de Jay Bolter, “Writing as Technology” and “Hypertext and the Remediation of Print”, e de George Landow, “Reconfiguring the Author”.

Citei aqui alguns dos textos que têm mais relação com minha pesquisa. Mas há vários outros mais específicos sobre propriedade intelectual que merecem ser conferidos.

Clique aqui para ver a bibliografia completa com os links.

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Remix ou plagiocombinação – algumas referências

Quando criei este blog, um de meus objetivos era encontrar interlocutores, pessoas que tivessem interesses próximos e com quem eu pudesse trocar ideias. Neste post quero compartilhar as referências que tenho recebido, especialmente as ligadas ao tema do remix.

Começo com o blog MixLit, de Leonardo Villa-Forte, que segundo sua própria definição “mistura diversos autores e estilos em surpreendentes e divertidos mash-up´s literários”. A proposta tem gerado estudos acadêmicos e também polêmicas, por sua ousadia em misturar trechos de obras de autores como Clarice Lispector, José Saramago, Sérgio Sant’Anna e outros, para criar uma mini narrativa remixada. Dê uma conferida em: www.mixlit.wordpress.com.

Barthes já dizia que “o texto é um tecido de citações, oriundas dos mil focos da cultura”, isto é, a criação (e podemos estender esta afirmação para as demais formas de expressão) é uma recombinação de elementos já disponíveis em um comum partilhado por todos. Por isso é tão questionável a noção de autor como algo de natureza puramente individual ou subjetiva. Esta concepção, que tem a ver com um determinado momento histórico, como já desenvolvi em outro post, se mostra cada vez mais inadequada para se pensar os processos criativos na atualidade.

Tom Zé, sempre visionário, nos ajuda a entender essa questão, lançando a noção de plagiocombinação:

“Hoje, também pelo esgotamento das combinações dos sete graus da escala diatônica [mesmo acrescentando alterações e tons vizinhos] esta prática desencadeia, sobre o universo da música tradicional, uma estética do plágio, uma estética do arrastão. Podemos concluir portanto, que terminou a era do compositor, a era autoral, inaugurando-se a era do plagicombinador, processando-se uma entropia acelerada.” (texto do encarte do CD Com Defeito de Fabricação)

Para saber mais sobre o assunto, leia o excelente artigo “Tom Zé, 70 anos é pouco”, de Demétrio Panarotto

Esta e as próximas referências me foram passadas pelo Reynaldo Carvalho, doutorando de Literatura na UnB, com quem tenho tido uma interlocução bem produtiva.

Um dos textos mais inspiradores é o Manifesto Sampler, de Fred Coelho e Mauro Gaspar. Segue um trecho:

“Não ponho aspas. As palavras são minhas. Não importa quem fala. Sou quem pode dizer o que disse. Fui eu quem escreveu. Agora abro as comportas e deixo que elas, as palavras, as vozes, se espichem, se multipliquem, se fortaleçam. Aglutinação pela dispersão. Ele(s) redige(m), mas sou quem escreve. Um corpo em disponibilidade para si e para o outro. Todo es de todos, a palavra é coletiva e é anônima.”
Leia a primeira parte do manifesto.

Outro trabalho que me impressionou bastante foi a tese de Marcus Vinicius Fainer Bastos, “ex-Crever? literatura, linguagem, tecnologia”, que traz não só uma reflexão teórica profunda sobre o remix articulando com diversas ideias, entre elas a da mestiçagem, como também apresenta uma programação visual inovadora que busca dialogar com o próprio tema em questão, da escrita digital (ou ex-crita, como ele deve preferir).

Por último, e realmente imperdível, a dica do livro Recombinação, uma coletânea de artigos do memorável site rizoma.net, que pode ser baixado aqui. Entre eles, “Copyright e Maremoto”, do coletivo Wu Ming; “A cultura da reciclagem”, de Marcus Bastos; “Entropia Social e Recombinação”, de Franco Berardi.

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Livros sobre cibercultura pra baixar

A vantagem de se pesquisar a cibercultura – e especialmente a cultura livre na rede – é que existem vários livros que podem ser baixados de graça, alguns dele de fato fundamentais.

Este é o caso dos livros do Lawrence Lessig, como Free Culture (que já tem tradução para o português) e The Future of Ideas (infelizmente não está mais disponível para baixar). Fundador do Creative Commons, Lessig defende a flexibilização do direito autoral para o desenvolvimento tecnológico e cultural.

Outro livro seminal é Wealth of Networks, de Yochai Benkler, que traz um trabalho de fôlego sobre a economia das redes e o valor do compartilhamento nesse contexto.

Na mesma linha, Futuros Imaginários – das máquinas pensantes à aldeia global, de Richard Barbrook, investe numa abordagem mais política da questão. Um dado interessante é que o livro foi traduzido de forma colaborativa pelo grupo des).(centro., como uma forma de exercitar o processo colaborativo que Barbrook defende.

Uma leitura a meu ver imprescindível é Cultura Digital BR que traz insights de pesquisadores e figuras públicas, montando um quadro diversificado e rico do pensamento e da ação nessa área no País.

Outro dia procurando um artigo no Google, achei uma pérola: Capitalismo Cognitivo, propiedad intelectual y creación colectiva , com artigos de Yann Moulier Boutang, Maurizzio Lazzarato, Antonella Corsani e outros. Eles têm na minha opinião a visão mais acurada do fenômeno da economia do conhecimento que está por trás da grande mudança que estamos vivendo hoje na produção e circulação dos bens culturais na sociedade.

Um dos mais inspirados, e que gosto muito, é o Livro depois do Livro, de Giselle Beiguelman, que pensa as possibilidades da interface digital para além da tradição gráfica impressa, ainda bastante presente nos projetos hipertextuais.

Ainda vale destacar, entre os pesquisadores brasileiros: Além das Redes de Colaboração – internet, diversidade cultural e tecnologias do poder, organizado por Nelson De Luca Pretto e Sergio Amadeu; Comunicação e Mobilidade – aspectos socioculturais das tecnologias móveis de comunicação no Brasil, organizado por André Lemos e Fabio Josgrilberg; Redes Sociais na Internet, de Raquel Recuero; e Blogs.com – Estudos sobre Blogs e Comunicação, organizado por Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Montardo.

Há tempos tenho essas referências, e achei que seria útil criar uma lista na barra de links do blog pra facilitar a vida de quem também se interessa pelo tema. Na coluna da direita, em Livros para Baixar, você encontra mais alguns deles.

(Este post foi atualizado em 24/06/2013. Vários links estavam obsoletos e alguns livros não estão mais disponíveis para download. Mantive de toda a forma a referência, pois eles podem ser adquiridos, por quem tiver interesse, na Amazon.)

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