Arquivo do mês: julho 2014

O Partido X e a política do futuro

Um partido que se propõe a transformar radicalmente a prática política: esta é a Rede Cidadã Partido X, criada na Espanha em janeiro de 2013. A proposta nasceu da articulação de integrantes do movimento 15M, que ocupou as praças espanholas a partir de maio de 2011 com a palavra de ordem “não nos representa”, dirigida aos políticos tradicionais do país.

Para que os governos sejam controlados pela cidadania e não por corporações, o Partido X propõe um novo roteiro e método de trabalho. Sua proposta de atuação, Democracia e Ponto, está pautada em alguns princípios básicos:

– Transparência na gestão pública, para que os cidadãos possam acompanhar e cobrar a lisura em investimentos e ações;

– WikiLegislação, na qual a população pode propor e votar em proposições legislativas;

– WikiGoverno, com participação direta da cidadania na elaboração e gestão pública;

– Direito ao voto real e permanente em temas de interesse público, e não só eleger um representante a cada quatro anos;

– Referendo obrigatório e vinculante, de caráter propositivo e que tenha poder de lei.

Sua estrutura já revela a proposta de mudança radical na forma de se fazer política: a Rede Cidadã não tem líderes, hierarquia ou cargos. Sua atuação se baseia em uma responsabilidade distribuída entre seus integrantes que se dividem em grupos de trabalho.

No vídeo abaixo, como prova de que é possível fazer diferente, são citadas as experiências do Orçamento Participativo de Porto Alegre e da Constituição Colaborativa da Islândia, exemplos concretos de participação direta da população nas decisões políticas.

O Partido X participou das últimas eleições para o Parlamento Europeu com uma lista de candidatos de diferentes perfis profissionais e sem nenhuma carreira política anterior. Sua proposta eleitoral teve a colaboração direta dos cidadãos, com cerca de 1,5 mil emendas.

Em entrevista à BBC, Ruben Saéz, um dos coordenadores da campanha do partido, resumiu assim a motivação da candidatura:

“Trata-se de que a democracia não seja nunca mais um cheque em branco que damos a cada quatro anos a um grupo de pessoas, sem que os cidadãos possam intervir quando as coisas não vão bem.”

Tiveram mais de 100 mil votos mas não conseguiram eleger um representante. No entanto, puderam se apresentar como uma alternativa concreta à política tradicional, tão desacreditada, em uma experiência que serve de inspiração para o mundo todo.

Eles se consideram o partido do futuro. Ao mesmo tempo, acreditam que a melhor maneira de definir o futuro é criá-lo. Assim, seguem agora com uma estratégia mais ampla: a de apoiar candidaturas cidadãs por toda a Espanha, como é o caso da iniciativa Guanyem Barcelona.

Concluo com as palavras de Manuel Castells:

“Na verdade, não é um partido, mesmo que esteja registrado como tal, mas um experimento político, que vai se reinventando conforme avança. No horizonte, vislumbra-se um momento em que o apoio da cidadania a votar contra todos os políticos ao mesmo tempo, e em favor de uma plataforma eleitoral que tenha esse só ponto em seu programa, permita uma ocupação legal do Parlamento e o desmantelamento do sistema tradicional de representação, de dentro dele mesmo. Não é tão absurdo. É, em grande medida, o que aconteceu na Islândia, referente explícito do partido que nos fala a partir do futuro.”

Leia o texto completo Castells: por que surgiu o Partido do Futuro

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