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“Juntos” – sobre a complexidade da cooperação

O último livro do sociólogo e historiador Richard Sennett trata de um tema caro aos estudos de cibercultura: Juntos – os rituais, os prazeres e a política da cooperação.

Da orelha do livro:

“O autor argumenta que a cooperação é uma arte, e as bases para a cooperação hábil estão em aprender a ouvir bem e avaliar, em vez de duelar verbalmente. Sennett explora como as pessoas podem colaborar on-line, nas ruas, nas escolas, no trabalho e na política local. Delineia a evolução dos rituais de cooperação desde os tempos medievais até o presente, em situações tão diversas como comunidades de escravos, grupos de socialistas em Paris e trabalhadores de Wall Street. Dividido em três partes, o livro aborda a natureza da cooperação, por que esta se tornou débil, e como poderia ser reforçada. Sennett adverte que devemos aprender a arte da cooperação se quisermos que a nossa sociedade – individualista e competitiva – prospere, e nos assegura que somos capazes disso, pois a faculdade de cooperação faz parte da natureza humana.”

Na parte em que trata mais diretamente da comunicação eletrônica, Sennett conta que participou de um grupo de testes de trabalho com o Google Wave, programa concebido especificamente para a cooperação on-line. Seu relato ajuda a entender por que, afinal, o projeto fracassou.

O grupo do qual participou reunia diferentes profissionais espalhados por diversos países europeus com o objetivo de levantar informações e criar políticas para a questão da migração para Londres. Com o passar do tempo, no entanto, as interações on-line esfriaram e eles acabaram preferindo agendar encontros pessoais para avançar nas discussões.

Na análise de Sennett, a interface do Google Wave não contemplava a complexidade da comunicação pois inibia visualmente os pensamentos fora da caixa e as intervenções casuais, aparentemente irrelevantes, mas que tinham o potencial de trazer inputs originais à conversa.

Assim, as razões do fracasso tem a ver com o mau entendimento da comunicação e da cooperação. O programa confundia partilha de informações com comunicação, que engloba também formas mais sutis de expressão como a sugestão e a conotação.

Para ele, isso não é um problema exclusivo do Google Wave, mas está presente em vários outros softwares. Isso porque os desenvolvedores acreditam que um modelo dialético dará conta da comunicação e não avançam em recursos dialógicos, o que acaba por inibir a cooperação.

Bom, isso é só uma palinha do conteúdo do livro. Para quem quiser entender mais a fundo a complexidade da comunicação humana, fica aí a dica de excelente leitura.

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