Arquivo da categoria: Cultura livre

Mudamos: o site Em Rede está no ar!

Já faz um tempo que não escrevo por aqui. Mas foi por um bom motivo: estava desenvolvendo o site Em Rede, um espaço maior e mais bem estruturado para reflexão e discussão de temas como Cultura Livre, Remix, Ciência Aberta, Economia P2P, Política em Rede e outros assuntos que têm a ver com os tempos atuais das redes eletrônicas.

Na verdade, considero o novo site um upgrade deste blog aqui, onde pude escrever sobre todos esses assuntos e alguma coisa mais, e que foi um espaço muito importante para dialogar e encontrar interlocução durante minha pesquisa de doutorado. Aliás, um dos interlocutores mais constantes do blog me acompanha nessa empreitada: Reynaldo Carvalho assina uma coluna permanente sobre Remix e temas afins.

Agora dei um passo adiante, em uma plataforma com mais recursos e mais bem planejada para poder aprofundar o debate sobre as transformações que estamos vivendo com o advento do paradigma digital e a expansão da produção colaborativa entre pares, seu potencial e seus desafios.

A edição de lançamento traz uma entrevista com o professor e ativista Sergio Amadeu, que alerta para a maior ameaça à liberdade na rede atualmente no País: o Congresso Nacional controlado por diversos lobbies que já conseguiram emplacar vários projetos de lei que, se aprovados, representarão tremendo retrocesso aos avanços estabelecidos pelo Marco Civil da Internet.

Outro tema em destaque é o debate em torno da Economia do Compartilhamento x Cooperativismo de Plataforma, ou por que o Uber e o Airbnb não representam a economia colaborativa. Além de outros posts sobre Internet Livre e Ciência Aberta, o site traz ainda indicações de leitura e divulgação de cursos e chamadas para congressos e publicações.

O novo espaço está lançado e minha expectativa é que possa, aos poucos, ser ocupado por todos os que tenham interesse nessas questões e vontade de trocar ideias. Fica o convite para pesquisadores, ativistas e cidadãos comuns que queiram entrar na roda e contribuir, com comentários, sugestões ou posts (vale textos, imagens, vídeos etc.), para irmos levando essa conversa.

Espero sua visita!

www.em-rede.com

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Novas ameaças à internet livre

Estive recentemente participando de debate sobre o filme Freenet?, que já contém em seu título o questionamento sobre a liberdade na internet: a rede é mesmo livre? E esta liberdade, se existe, já está garantida?

Em minha fala abordei justamente algumas ameaças que estão atualmente pairando sobre a internet livre no País. Estamos vivendo atualmente um momento de grandes retrocessos, com a possibilidade concreta de perdemos em pouco tempo conquistas que foram fruto de décadas de luta da sociedade civil.

Em relação à internet não é diferente. Em 2014, aprovamos, sob os aplausos de ativistas, juristas e pesquisadores do mundo todo, o Marco Civil da Internet. No entanto, suas diretrizes correm o risco de serem distorcidas por iniciativas que têm avançado no Congresso Nacional.

Uma dessas distorções tomou forma no relatório final da CPI dos Crimes Cibernéticos, aprovado em 04/05/2016, que elencou alguns projetos de lei que tramitarão em regime de prioridade na Câmara Federal.

Embora a atuação de entidades civis e instituições acadêmicas, como o coletivo Intervozes e o Instituto de Tecnologia e Sociedade, tenha conseguido retirar algumas aberrações do pacote, como o projeto de lei que autoriza a retirada imediata, apenas por notificação, de crítica considerada acintosa à honra de um político nas redes sociais, ainda restaram proposições legislativas bastante preocupantes.

Por exemplo, o projeto de lei 5204/2016 que, se aprovado, autorizará a Justiça a bloquear sites e aplicativos, que sejam hospedados no exterior ou não tenham representação oficial no Brasil, e que pratiquem crime punível com pena mínima igual ou superior a dois anos.

Em primeiro lugar, não faz sentido bloquear toda uma plataforma ou aplicativo porque existe alguma violação à lei por parte de um ou mais usuários isolados. Isso pode causar um efeito pernicioso de censura prévia e de restrição à liberdade de expressão. Isso porque os administradores de tais plataformas podem optar por criar um sistema de monitoramento e retirada prévia de conteúdo a fim de evitar a penalização radical.

A justificativa apresentada para tal proposta é o combate aos crimes de pornografia infantil. Isso porém não faz sentido, pois não há necessidade de uma lei específica a esse respeito para o ambiente cibernético, pois esses crimes já estão previstos no código penal brasileiro.

É evidente a atuação do lobby pela proteção dos direitos autorais, defensores dos interesses das grandes corporações de mídia, por trás dessa proposta. Se até agora não conseguiram deter a dinâmica de compartilhamento de bens intelectuais pela rede, tentam criar um novo recurso, drástico, para fazê-lo.

Outra ameaça é a limitação de dados nos pacotes de internet fixa. Lamentável ver que essa proposta de mudança conta com o apoio da Anatel, órgão público em tese responsável pela defesa dos interesses dos consumidores e não das operadoras. Se a proposta for aprovada, os novos planos de internet fixa poderão ser cobrados também pelo consumo de dados, e não só pela velocidade como era feito anteriormente. Assim, serão criadas classes diferentes de conexão à internet: os que têm acesso a tudo e os que têm acesso restrito.

Importante lembrar que o Marco Civil trata a internet como serviço essencial para o exercício da cidadania. Assim, o direito à conectividade é visto como um direito básico, pois através dele é possível o “acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural e na condução dos assuntos políticos” (citação de trecho do Marco Civil, Lei 12.965, de 23 de abril de 2014).

Apesar do quadro nada animador, a boa notícia é que, depois da grande mobilização da sociedade, a Anatel decidiu abrir consulta pública para ouvir entidades e especialistas a fim de colher subsídios antes de deliberar sobre o tema. Leia a nota do Idec sobre o assunto.

A rede é território em disputa. Desde seu início, quando foi criada com fins bélicos no ambiente da guerra fria, mas estruturada com protocolos colaborativos pelos acadêmicos responsáveis por seu desenvolvimento e depois povoada pelos valores hackers de cooperação e compartilhamento. Estamos, portanto, em plena luta para garantir que os valores da internet livre prevaleçam sobre os interesse comerciais e os dispositivos de controle (outro tema do debate sobre o filme foi a vigilância, que vai ficar pra um futuro post). Por isso é fundamental que todos estejam no front, como cidadãos, expressando e fazendo valer sua vontade.

O prazo da consulta à proposta de limitação de dados na internet fixa será de 60 dias e estará aberto para técnicos, ativistas, estudantes e consumidores. O Idec organizará uma plataforma para auxiliar todos aqueles que queiram participar com estudos e informações sobre como barrar a franquia de dados. Além disso, existe também um abaixo-assinado contra a proposta, já com mais de 1,5 milhão de assinaturas, que será enviado à Anatel e ao Ministério Público Federal. Já assinou?

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30/05, exibição do filme Freenet? na ECO/UFRJ

Freenet?, o filme

Esta é para quem mora no Rio de Janeiro: na próxima segunda-feira, 30/05, haverá exibição do filme Freenet? na Escola de Comunicação da UFRJ, por iniciativa do professor Jonas Federman.

Eu participo do debate após a exibição ao lado da professora Fernanda Bruno, que tem vasta pesquisa sobre vigilância na rede.

Entrada franca. Estão todos convidados!

Mais informações sobre o filme, no post anterior.

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Em maio, lançamento do filme Freenet

Coerente com o espírito da internet livre, os produtores do documentário Freenet, com lançamento previsto para o início de maio próximo, procura interessados em exibir o filme em sessões abertas e gratuitas. A chamada se dirige não só a coletivos, escolas e academia, mas a todos os que queiram levar esse debate para o espaço público.

Para ser um exibidor, basta preencher e enviar este formulário

Já escrevi sobre o projeto aqui e aqui.

Reproduzo abaixo texto de divulgação do filme:

A world wide web foi concebida e construída a partir de um fundamento principal: a liberdade pela conexão em rede, e não demorou para se tornar o carro-chefe da liberdade de expressão do século XXI. Com ela, não somos apenas consumidores de informação, somos também produtores. Mas o quanto somos realmente livres na internet para acessar conteúdos, e nos expressarmos? Quem governa a rede? Com quais interesses? Temos privacidade? Quem garante o direito de todos os cidadãos a uma conexão rápida e de baixo custo? Essas e outras questões são debatidas em FREENET por especialistas e ativistas como Lawrence Lessig, Nnenna Nwakanma, Sergio Amadeu da Silveira, Edward Snowden, entre muitos outros. O filme passeia pela África, Índia, Estados Unidos, Brasil e Uruguai mostrando iniciativas e obstáculos para a democratização do acesso à internet e para a garantia de neutralidade da rede.

Assista ao trailer:

Mais informações na fanpage do Freenet.

E vamos lá, participar da rede de exibição e ajudar a colocar esse debate na rua!!

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Direito de Estudar

direitoaestudar

Mais uma boa notícia vinda do Uruguai: no dia 13 de abril, o Senado daquele país aprovou o projeto de lei que atualiza a Lei de Direito Autoral, promulgada em 1937, incluindo a permissão da cópia para uso pessoal, desde que com fins educativos, acadêmicos ou de produção de novo conhecimento.

Atividades já incorporadas ao cotidiano, como pegar um livro emprestado na biblioteca, copiar um trecho de uma publicação ou difundir obras em plataformas virtuais com finalidade educacional, são ainda consideradas ilegais. A aprovação da alteração na lei irá beneficiar não só estudantes, bibliotecários e pesquisadores, mas também o público em geral.

Aqui no Brasil, nós saímos na frente mas acabamos ficando para trás. O projeto de Reforma da Lei de Direito Autoral, que passou por ampla consulta popular e estava pronto para votação no final do segundo governo Lula, acabou engavetado em alguma instância do governo Dilma para sempre… O projeto previa uma série de adequações da lei às novas práticas sociais. Por exemplo: de acordo com a lei em vigor, copiar um CD comprado para o seu iPod é ilegal!

Assim como aconteceu aqui, a proposta uruguaia vem sofrendo ataques da indústria editorial e ainda não é certa sua aprovação final. Depende ainda da votação na Câmara dos Deputados para virar lei. Tomara que nossos hermanos tenham mais sucesso que nós e possam rapidamente modernizar sua legislação a fim de ficar à altura dos novos tempos de maior compartilhamento da cultura e do conhecimento.

Enquanto isso, a campanha #derechoaestudiar segue mobilizando os uruguaios.

Saiba mais sobre o assunto:

Obtiene media sanción la ley de acceso a la cultura y a materiales de estudio

Una iniciativa imprescindible

Derecho a la cultura

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Somos todos mídia

Vivemos em uma época singular, na qual práticas e conceitos usuais vêm sendo desestabilizados por uma lógica que substitui o lugar anteriormente centralizado e restrito de produção de valor por um processo aberto e distribuído em rede, abalando profundamente as estruturas das instituições tradicionais.

Nas últimas semanas, assistimos essa mudança chegar com força total na esfera da imprensa aqui no Brasil, colocando em xeque sua credibilidade e, naturalmente, forçando-a a responder às novas dinâmicas. Um acontecimento, especialmente, marcou essa transformação: a prisão do estudante Bruno Telles no protesto em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo do Estado do Rio de Janeiro, no dia 22 de julho. Negro, morador da Baixada Fluminense, Bruno foi acusado pela Polícia Militar de ter lançado um coquetel molotov na manifestação, além de supostamente carregar mais explosivos em sua mochila.

Logo em seguida, pelas redes sociais, começou a circular um vídeo que mostrava Bruno totalmente fora da área de onde teria sido lançado o coquetel. Mais ainda: ficava evidente que ele não portava nenhuma mochila na ocasião. Para completar, também ficava clara a ação de policiais infiltrados, os P2, levantando a suspeita de que eles é que teriam iniciado os ataques naquele dia.

Assista ao vídeo que mostra Bruno à frente da manifestação e longe do local de onde é lançado o explosivo. Repare o grande número de pessoas filmando e fotografando o protesto.

A repercussão foi tamanha que o vídeo acabou sendo exibido pelo Jornal Nacional e, o mais importante, toda a narrativa que havia sido divulgada sobre aquela manifestação – creditando aos manifestantes o começo do tumulto – teve que ser reconstruída. E Bruno, que por sua condição social teria sido facilmente criminalizado com provas forjadas, foi inocentado e saiu como herói.

A cobertura direta das mobilizações vem sendo feita por diversas pessoas e coletivos, que participam dos protestos ao mesmo tempo em que fazem o registro em streaming – filmando e transmitindo em tempo real. Isto muda tudo: a polícia não pode mais agir impunemente ou impedir o registro. São muitos filmando e muitos mais ainda assistindo simultaneamente em seus computadores, como testemunhas dos acontecimentos.

Além disso, essas transmissões resultam em adesão significativa às mobilizações, fazendo que se transformem em acontecimentos públicos de maior dimensão. Protestos como #ocupacabral e #ocupacamara, que acontecem atualmente na cidade do Rio de Janeiro, ganham maior repercussão na medida em que podem ser acompanhados e apoiados por centenas de pessoas ao vivo. Sem essa cobertura e com a omissão da grande imprensa, teriam certamente muito menos força.

Existem vários grupos trabalhando no streaming dos protestos, como o Olho da Rua, Vidblog Vidigal e Mídia Ninja. Este último é o mais conhecido, por agregar maior audiência e ter conseguido formar uma grande rede de coberturas por todo país e, por isso mesmo, ter também grande penetração nas redes sociais. Vale conferir este site que agrega vários desses coletivos em todo o Brasil.

O fortalecimento desse jornalismo de multidão, exercido pelos cidadãos não necessariamente formados ou em formação nas faculdades de jornalismo ou nas redações, tem causado grande desconforto na grande imprensa. São inúmeros os artigos tentando reforçar o papel do jornalista profissional como mediador autorizado e, ao mesmo tempo, desqualificar aquilo que é produzido fora de seu circuito.

Certamente, este não é o melhor caminho para que a imprensa garanta o seu lugar no espaço público de debate. É preciso reconhecer que a circulação de notícias e opiniões mudou radicalmente e para sempre. Hoje todos somos mídia. Com nossos smartphones podemos registrar os acontecimentos e transmiti-los em tempo real, contribuindo com a construção da opinião pública de forma muito mais plural e diversificada.

A imprensa tradicional, a meu ver, não vai deixar de existir. Sua relevância certamente vai depender de como vai atuar no novo ambiente midiático. Deixará de ter um lugar tão central, como antes, para dividir espaço com a multidão de cidadãos que também participarão da produção de relatos e avaliações sobre os acontecimentos. Sua credibilidade será colocada em xeque a todo momento, por isso mesmo terá que considerá-la muito seriamente pois seus deslizes terão muito mais visibilidade.

Como se vê, vivemos tempos novos e promissores, pois a concorrência da mídia cidadã distribuída contribui, e muito, para o aprimoramento da qualidade de nossa esfera pública.

Um adendo: a cobertura distribuída não começou agora. A reunião da OMC em Seattle, em 1999, marcou o início do jornalismo ativista em rede. Para conhecer mais, a referência é o excelente artigo do professor Henrique Antoun – Jornalismo e ativismo na hipermídia: em que se pode reconhecer a nova mídia.

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Freenet, o filme

Há um tempo escrevi aqui sobre o Freenet?, um documentário colaborativo sobre a internet livre que está sendo produzido por quatro organizações brasileiras: o Centro de Tecnologia e Sociedade, da FGV; o Instituto Brasileiro de Defesa ao Consumidor (IDEC), o Instituto NUPEF e o Coletivo Intervozes.

O objetivo do projeto, segundo os coordenadores, é expor fatos, casos, pontos de vista e questionamentos de pessoas que estão atentas aos desafios para assegurar que a Internet continue sendo um espaço aberto, colaborativo, no qual a autonomia e os direitos dos usuários sejam respeitados.

Leia mais sobre o projeto aqui.

Atualmente o roteiro está sendo finalizado, mas ainda é possível enviar colaborações, na forma de vídeos, para integrar o filme.

Alguns vídeos, tratando de temas chave, já foram produzidos. São eles: Acesso à Conexão; Neutralidade da Rede; Acesso ao Conteúdo; Liberdade de Expressão e Privacidade. Além desses, mais alguns vídeos foram feitos em oficinas realizadas em Nairobi e no Piauí, para mostrar diferentes realidades e questões relativas à rede.

Você pode conferir os vídeos na página do Youtube do FreenetFilm.

Posto um deles aqui, o de Acesso ao Conteúdo, que achei realmente genial, porque consegue demonstrar de forma clara e simples o absurdo das atuais normas de propriedade intelectual.

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O tropeço do Instagram

Vou comentar aqui, com um certo atraso, o recente tropeço do Instagram, um aplicativo para celular e tablet que permite que as pessoas postem e compartilhem suas fotos.

No mês passado, o Instagram causou um rebuliço ao anunciar que passaria a comercializar as imagens postadas pelos participantes. A reação foi imediata: de acordo com a AppsStats, empresa que mede o tráfego de aplicativos, a rede social perdeu mais da metade de seus usuários ativos diários. Das 16,3 milhões de pessoas que acessavam diariamente a rede em dezembro, apenas 7,6 milhões continuaram ativas em janeiro.

Depois da reação, o Instagram mudou de tom. O próprio fundador e diretor-executivo, Kevin Systrom, veio a público dizer que tudo não passou de um mal-entendido e que eles não tinham a intenção de vender as fotos postadas no aplicativo. Mesmo assim, o impacto negativo foi enorme.

Tem alguns aspectos que merecem ser analisados nesse caso. Em primeiro lugar, de fato, as pessoas se sentiram traídas pois as regras seriam mudadas no meio do caminho, caracterizando um tipo de quebra de contrato. Muitos tinham dezenas ou centenas de imagens ali, e se sentiram ludibriados pela possibilidade de uma súbita alteração nos termos de serviço.

Sem falar no fato de que o aplicativo pretendia lucrar com imagens dos participantes sem lhes repassar nenhum tipo de remuneração por isso. Seria, a meu ver, uma prática abusiva.

Muito mais interessante e inteligente, por exemplo, é a estratégia da Google de oferecer aos participantes do Blogger, a sua plataforma para a publicação e gerenciamento de blogs, a possibilidade de colocar anúncios, através do Google AdSense, e receber dinheiro de acordo com alguns critérios, como o número de cliques e de visitas etc. É uma proposta de lucro partilhado, mais justa e atraente.

Mas tem um outro lado que talvez seja o mais relevante: a total falta de visão, por parte dos administradores do Instagram, de como se dão as interações nas redes sociais, onde existe já uma cultura disseminada e consolidada de livre compartilhamento de conteúdo, sem a previsão de cobrança.

E o mais importante: são as pessoas que produzem valor nessas redes – como Instagram, Facebook, Youtube ou Twitter – e não puramente o aplicativo ou a plataforma de forma isolada. O que seria desses espaços se não fossem as milhões de pessoas que postam conteúdo todos os dias? Seriam um deserto desinteressante e sem a menor possibilidade de gerar lucro.

Qualquer forma de estratégia de negócio na rede tem que partir do reconhecimento e da valorização da cultura de livre compartilhamento, senão tende mesmo a fracassar. As pessoas que postam das redes (talvez fosse mais correto chamá-los de participantes e não de usuários) não são passivos ou mero receptores como a audiência dos veículos de comunicação de massa. Ao contrário, são ativos, são produtores de conteúdo, e não podem ser tratados como meros consumidores a quem se possa impor regras. Esta é a premissa básica para o desenvolvimento de qualquer projeto em redes sociais.

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