La Plissure du Texte, projeto pioneiro de autoria em rede

Um conto de fadas criado de forma colaborativa a nível mundial. Uma ideia nova? Nem tanto. Este foi o mote do projeto La Plissure du Texte, coordenado por Roy Ascott nos idos de 1983, como parte do Electra, Electricity and Electronics in the Art of the XXth Century, no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris.

Inspirado em parte no texto Le plaisir du texte,  de Roland Barthes, especialmente no seu conceito de juissance (prazer), o artista resolveu criar um experimento da telemática da utopia para, em suas palavras: “ (dar/oferecer) prazer narrativo  no contexto de sistemas abertos de tempo não-linear (assincrônico) e de espaço ilimitado (não-localizável)”.

Pensou então em um projeto que envolvesse caminhos associativos múltiplos para criação de uma narrativa de forma assíncrona, de múltiplos níveis e não linear. Para isso, se baseou na estrutura narrativa e na morfologia dos contos de fadas de Vladimir Propp, formada por sete dramatis personae: o vilão, o doador, o ajudante, a princesa, o mensageiro, o herói e o falso herói (ou anti-herói).

Ascott fez circular panfletos e anúncios na imprensa, como este:



E postou no sistema Artex uma mensagem que pode ser resumida assim:

Dated: july 18 1983

Projeto de narrativa colaborativa, envolvendo uma rede de artistas ao redor do planeta

Objetivo: Criar um texto de conto de fadas gerado por artistas localizados na Áustria, Austrália, Canadá, Holanda, França, Havaí, Inglaterra, Gales e EUA

Papéis: Os artistas colaboradores irão gerar o texto do ponto de vista de um papel ou identidade assumidos. Cada um irá se tornar um personagem no conto de fadas, atribuído pelo organizador do projeto, como vilão, herói, falso herói, princesa, ajudante, etc.

Duração: Primeiras três semanas de dezembro.

Método: terminais de dados ligados ao IP Sharp Artbox, com terminais de exibição e cópia no Musée D’Art Moderne de la Ville de Paris.

Abaixo, as fotos dos diferentes terminais que participaram do experimento:

Como resultado, artistas e grupos de artistas em 11 cidades da Europa, América do Norte e Austrália concordaram em juntar-se ao projeto. La plissure du texte esteve ativo on-line por 24 horas, durante doze dias – de 11 a 23 de dezembro de 1983. Durante este período, centenas de “usuários” envolveram-se em um grande intertexto, na feitura de um “tecido” que não poderia ser classificado, gerando um “conto de fadas planetário”. Por conta das diferenças de fusos horários, as narrativas muitas vezes se sobrepuseram e se fragmentaram.

Veja um exemplo que mostra como a criação textual se misturou com a visual:

Aqui você tem um registro desta experiência.

Estive revendo este projeto para minha apresentação no Acta Media In-Pacto 8º Simpósio Internacional de Artemídia e Cultura Digital, que está sendo realizado de 13 a 27 de agosto em São Paulo. Na minha apresentação vou falar sobre “Processos criativos intersubjetivos – a autoria colaborativa em rede”, na próxima segunda-feira, dia 23, e vou citar alguns exemplos de autoria colaborativa.

Além do La Plissure du texte, vou abordar também algumas iniciativas atuais no Twitter, que tem em comum a proposta de uma autoria colaborativa distribuída, como o @twiterbook, no qual foram escritas cinco estórias entre 28 de julho e 21 de dezembro de 2009, através da colaboração de 67 co-autores em 135 tweets. Mais detalhes da proposta podem ser checados aqui.
Outra experiência interessante é a do Twitter Opera, que só conheci recentemente:  a criação colaborativa de uma ópera via twitter para apresentação no Royal Opera House, em Londres. Começou em 31 de julho de 2009 e continuou durante todo o mês de agosto seguinte. A apresentação da ópera foi em 5 e 6 de setembro do mesmo ano.  Esta é uma iniciativa do Projeto Deloitte Ignite Opera.

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Arquivado em Autoria Colaborativa, Escrita Digital

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