Arquivo do mês: janeiro 2012

A guerra na rede

A semana passada marcou a passagem para um novo patamar na luta pela liberdade na rede. Por um lado, houve a maior ameaça de todas para a cultura digital, com a possibilidade de aprovação dos projetos Stop Online Piracy Act (SOPA) e PROTECT IP Act (PIPA) pelo Congresso americano. (Leia mais sobre o SOPA neste post.) Mas, por outro, a potência de resistência da rede se mostrou como nunca.

Na quarta-feira, dia 18 de janeiro, milhares de sites em todo mundo estiveram fora do ar para protestar contra essas proposições, liderados pela gigante Wikipedia. A mobilização resultou em milhões de emails de protesto sendo enviados para os congressistas que acabaram adiando a votação do projeto. Não se pode dizer que desistiram da ideia, mas sem dúvida perceberam que votar contra a liberdade da rede pode representar uma enorme perda de votos.

No dia seguinte, como numa retaliação, o FBI fechou o site Megaupload, um serviço de compartilhamento de arquivos, por onde circulavam filmes e músicas protegidos por direito autoral, mas também muito material livre, arquivos produzidos pelas próprias pessoas que tinham ali um meio de partilhá-los com seus amigos.

Em seguida, o grupo de ciberativistas Anonymous retirou do ar os sites da Motion Picture Association of America (MPAA), da Recording Industry Association of America (RIAA), do Departamento de Copyright da Casa Branca e até mesmo do FBI, entre outros, deixando evidente que o jogo de forças nesse conflito está longe de ser definido.

O interessante, a meu ver, é perceber como mudaram as armas de combate. Na guerra em rede, a resistência ao controle tem o poder de desestabilizar o sistema num novo paradigma no qual a inteligência, ou a potência cognitiva, pode rapidamente mudar o placar. O grande diferencial é que poder econômico não pode mais querer dar as regras sem ter que enfrentar a força dos que lutam para manter a Internet livre.

Tenho defendido que a livre circulação das informações e, portanto, da cultura e do conhecimento, é parte da dinâmica do capitalismo atual, de caráter cognitivo, e por isso mesmo é irrefreável. Pode-se até tentar deter o fluxo, como tem sido feito, mas a dinâmica do compartilhamento é algo tão intrínseco à rede e já tão incorporado como prática social que não tem como voltar atrás.

Resta-nos, então, aguardar os próximos rounds da batalha.

Deixo aqui alguns links para dois artigos interessantes sobre o tema:

EUA farão do combate à pirataria a nova guerra às drogas, diz analista – entrevista com Sergio Amadeu.

Saiba quem são os Anonymous, que derrubaram o site do FBI

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Resultado do experimento wiki

Há algumas semanas atrás postei aqui uma chamada para participação no experimento wiki, um dos estudos de autoria colaborativa para minha tese. O resultado da proposta foi bacana: houve 12 intervenções ao texto vindas de 10 endereços IP diferentes, e com contribuições muito pertinentes.

Foi interessante observar como as pessoas de fato se envolveram na reflexão, trazendo inclusive novas questões que não tinham sido abordadas pelo texto postado inicialmente. E também dá para perceber um certo diálogo entre elas, como se uma estivesse respondendo à outra.

Pesquei alguns trechos só pra dar uma ideia da riqueza da discussão:

Para Barthes, há muito tempo, o autor morreu. Não conheço o texto, mas possivelmente há diferentes interpretações para ele. Ou não?

Será que morreu, ou estamos ampliando as vozes e as possibilidades, como neste espaço? Sim! O autor não morreu, mas multiplicou-se!

O autor renasceu, agora individualmente, em 140 ou mais caracteres, sozinho ou em grupo.

Sai o autor individual entra o processo autoral coletivo. Ou não sai o autor individual, mas muitos outros autores individuais chegam e se juntam a ele. Quando sai o autor, entre o performer, sai quem faz a obra, entre a dobra.

E como deixei a experiência aberta para novas intervenções indefinidamente, acabo de ver que houve mais uma contribuição depois do prazo final, no dia 12 de dezembro:

Um autor sem corpo, que expressa um fluxo de atividade atribuído a um nickname que funcione como uma tag. Etiqueta que subverte sensivelmente a função-autor no momento em que traça uma linha entre posts, vendas, contribuições e que não significam nenhuma identidade, mas apenas atribuem atividades umas às outras. Um autor sem corpo, sem rosto e sem profundidade, superfície pura.

Você pode conferir o experimento aqui.

E, se quiser, pode ainda dar o seu pitaco 🙂

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